O Mito de Arakné (antiga lenda grega)


Entre os deuses que habitavam no Olimpo reinava Atena, deusa da Sabedoria e de todas as Artes... A bela Arakné era uma extraordinária bordadeira, cujos trabalhos maravilhosos eram admirados por todos os que os contemplavam:

- Que mãos preciosas tem!... que harmonia de cores!... que obras de arte!...

Tais elogios envaideceram tanto Arakné, que um dia exclamou:

- Se eu desafiasse a deusa Atena tenho a certeza de que ganharia!

Logo as ninfas do bosque correram a contar as suas palavras à deusa que, enfurecida pela afronta, logo aceitou o desafio... No dia marcado, Atena executou o seu bordado com muita arte e empenho mas, quando terminou, percebeu que a obra de Arakné era realmente muito mais bela que a sua... Enraivecida, rasgou o bordado da sua rival em mil pedaços e, em seguida, transformou-a numa aranha para todo o sempre...

(Lenda Mitológica Grega)


segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

*FUGAS...

Jaz em mim, cristalizado, o instante irrepetível 

que, algum dia, em algum lugar, me avassalou 

e que, às vezes, ainda me grita na memória o gesto, 

a ousadia, a palavra vã, a ilusão plena...


Tantas foram as fantasias, 

para além dos óbvios sentimentos, 

que se intersectaram noutros submundos, 

prefigurados em outros seres, ainda hoje incógnitos, 

anónimos, distantes, amados ou desamados...


Muito além desta imensa solidão 

que me define e persegue, dramática, 

impossível de transpor,  esta distância 

que me acompanha, passo a passo, 

pelos espaços contínuos do olhar 

que verto sobre os outros, que titulo 

como "imenso tu"...


Jocoso pensamento, talvez vagamente choroso também, 

vertido de todo o meu ser, em cada cor, 

em cada dia, em cada olhar perdido. 

Mas, enigmaticamente, envolvo-me sempre 

no abraço esfarrapado e desabrigado 

do ser carente que me demanda...


Sou assim, uma unidade carismática, maquilhada, 

mas oculta, plena de não saberes e vontades férreas. 

No amor, acontece despir-me em desejos imperiosos,

beirando alguma auto crueldade, pela perda de mim, 

numa comunhão que se esconde em análises 

subliminares...


As únicas fugas deste ensimesmamento cruel 

e intrínseco, enquanto ser comungante, pensante e  terno, 

que me suponho ser, são essas vagas de amor

tão absurdas como sublimes...


Nelas me reencontro, no momento único

em que tudo parece valer a pena. 

Sem que eu consiga perceber qual será essa pena. 

E só me resta esse mesmo amor, que me salva e pacifica,

supondo que sempre se esconde em mim alguma pena...


Arakné 




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