*DIVAGAR
Na varanda em frente ao mar,
entre eu e a fantasia,
visionária viajante
nas páginas de um livro aberto,
divago pelo poente
e o meu olhar desgarrado
passeia em traços largos
na margem deste poema.
Sorvo brilho em taça cheia
de um licor inebriante,
colorido de rubi,
com gosto de terra nunca
e um leve aroma a jasmim.
Nesta busca em desatino
que transporto desde imemórias,
nas lágrimas que desde menina
corriam por dentro de mim
e se sumiam num rio,
que transbordava em marés,
muito além do sol nascente,
como oceano perdido
em luas e águas revoltas,
o grito agudo de gaivotas
voando em voo picado,
entre o sonho e o ocaso
e um reflexo brilhante.
Os sentidos entorpecidos
vagueiam neste dilema:
ora a página que me convoca
numa promessa de ausência,
ora a fuga no horizonte
que me afoga em nostalgia
e esquecimento de mim.
Pela porta entreaberta
ou janela escancarada,
entre o livro e a fantasia,
caminho por um deserto
rumo a um destino incerto
com vista para o infinito,
nas ondas do mar revolto
sol ardente e esquecimento.
Arakné
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