O Mito de Arakné (antiga lenda grega)


Entre os deuses que habitavam no Olimpo reinava Atena, deusa da Sabedoria e de todas as Artes... A bela Arakné era uma extraordinária bordadeira, cujos trabalhos maravilhosos eram admirados por todos os que os contemplavam:

- Que mãos preciosas tem!... que harmonia de cores!... que obras de arte!...

Tais elogios envaideceram tanto Arakné, que um dia exclamou:

- Se eu desafiasse a deusa Atena tenho a certeza de que ganharia!

Logo as ninfas do bosque correram a contar as suas palavras à deusa que, enfurecida pela afronta, logo aceitou o desafio... No dia marcado, Atena executou o seu bordado com muita arte e empenho mas, quando terminou, percebeu que a obra de Arakné era realmente muito mais bela que a sua... Enraivecida, rasgou o bordado da sua rival em mil pedaços e, em seguida, transformou-a numa aranha para todo o sempre...

(Lenda Mitológica Grega)


quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

*A IMPROBABILIDADE DE EU SER EU...


Para além do caos dos azuis diversos

e convulsos, por entre cinzas e contornos negros, 

contrastam dispersas manchas coloridas,

alguns flocos brancos e muitos acasos...


Sorvo, com avidez, uma ébria sensação vital,

surdamente consciente da minha eternidade,

feita tão perfeita nas suas múltiplas

e efémeras imperfeições...


Como a maresia das ondas vivas morre na praia, 

leve e solta se balança numa infinidade oceânica

a imensidão estática do Todo precipitado

em fúrias desmaiadas, buscando a paz 

das areias molhadas...


Mergulho também nessa paz, em laços de amor 

e poder, aquietando o olhar no instante exacto

das marés vivas e dos céus de tempestades,

por onde gaivotas gritam destinos longos, 

esvoaçando terras longínquas, 

onde Tudo acaba em Nunca 

e um Agora perene se revela...


Num destino, inevitavelmente difuso, 

algum dia serei semente no bico de uma gaivota

ou, quem sabe,  alga marinha cidadã do mundo, 

viajante transportada por correntes

em cascos de navios, ancorada em aventuras,

imensidões e milénios...


Perpetua-me a herança dispersa

que carrego, por entre a seiva de árvores

em ilhas remotas ou como pequenos musgos

recolhidos na âncora de um barco naufragado...


A eternidade permanece, 

para lá do ser ilimitado que sempre serei, 

em cada partícula levada por ventos,

navegada por marés, replicada  ao acaso, 

aquele mesmo que, por acaso, não existe,

porque tudo se aperfeiçoa e se aprimora...


A Sabedoria oculta-se ao Olhar 

mas subjaz à Existência, observante observada, 

terra longe fértil, como ilusão de óptica ou, talvez, 

mera quimera... Não sou daqui, nem fui dali, 

serei talvez um infinitesimal grão 

de energia quântica, uma inexistência real...


Aglomero-me à sorte aqui e logo me dissiparei ali...

Num incidente ancestral me revivi

nas incontáveis células em que me perfaço,

para além dos gâmetas que me enfocaram 

no Eu que agora sou, mera sequência e junção...


Desde quando me gerei 

e em quantos me agregarei?

Infinitamente para além de mil sóis, 

que algum dia explodirão em luz 

e fragor intenso, implosão estelar 

que me cristalizará em partículas 

de luz e átomos...

Dispersas por que vácuos? 


E assim me quedarei, quietamente,

por infinitudesaté que me desperte

um astro vagueante e me transporte 

a uma nova dimensão, partícula viajante, 

divina nas eternidades possíveis...


Potência essencial e pura, porque o tempo 

é uma ilusão que limita o ilimitado 

e preenche de nadas os espaços vazios.

E eu, por aí, desfeita, vagueando improbabilidades...

Arakné

Arakné

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