O Mito de Arakné (antiga lenda grega)


Entre os deuses que habitavam no Olimpo reinava Atena, deusa da Sabedoria e de todas as Artes... A bela Arakné era uma extraordinária bordadeira, cujos trabalhos maravilhosos eram admirados por todos os que os contemplavam:

- Que mãos preciosas tem!... que harmonia de cores!... que obras de arte!...

Tais elogios envaideceram tanto Arakné, que um dia exclamou:

- Se eu desafiasse a deusa Atena tenho a certeza de que ganharia!

Logo as ninfas do bosque correram a contar as suas palavras à deusa que, enfurecida pela afronta, logo aceitou o desafio... No dia marcado, Atena executou o seu bordado com muita arte e empenho mas, quando terminou, percebeu que a obra de Arakné era realmente muito mais bela que a sua... Enraivecida, rasgou o bordado da sua rival em mil pedaços e, em seguida, transformou-a numa aranha para todo o sempre...

(Lenda Mitológica Grega)


quarta-feira, 6 de setembro de 2023

*Memória

Espaços de outrora,

reconstituídos na memória, 

de amores vividos em embriaguez 

e paixão, ora mergulhada em agonias

de ausências, ora imersa em volúpias 

de presenças. 

Recolhia suplicante o suspiro 

adivinhado num olhar faminto

e o sabor do beijo que me avassalava, 

intenso, num mar escaldante 

de invasões cegas e corpos sábios. 

Renascida.


Amores tão inteiros porque 

em pedaços tudo se apoucava.

Estirava ao sol a fantasia das asas

que chegavam e partiam, em buscas 

desmedidas, sem termo, sem término, 

sem moderação. 

Desatava os nós de fios esgarçados,

esfarrapava rendas, veludos gastos, 

as porcelanas, ociosas, desesperadas 

pelo banquete e o vidro fino da taça cheia 

que me brindava um licor forte, 

quebrados em mil pedaços 

perante um olhar desatento.

Desentendidas as entregas

e desesperados os retornos, 

a amargura ilusória de amar só por amor, 

derramar de vazios sem plenitudes. 

Entristecida.


Sobrevoei lonjuras, sem tino, 

sem rumo, na procura que me apontava 

ao caminho imaginado, na ambição 

de alcançar o azul do céu infindo,

por onde asas livres viajavam vontades

de infinito, perdida entre ser tudo, 

mas não existir ou nada ser,

mas renascer.


Parti, surda ao clamor, intocada 

pela súplica, já submersa na incerteza

do mergulho, em fuga da palavra 

desmerecida, do gesto suspenso, 

da pergunta calada, da indiferença.

A boca seca, o frio gélido da mão,

o olhar sombrio, a pena funda, 

o lamento chorado que nunca chegou. 

Ninguém soube, ninguém viu, 

ninguém escutou?

Mas a ave chorou, tão doída, 

as asas amachucadas.


Voei incrédula, tonta de liberdade,

já improvável, já indiferente, ainda receosa

do recomeço, curiosa da promessa, 

em devaneios de sal e lágrimas, 

num desamor desconstruído, 

num amor desamado, ainda amando. 

Vivi o sobressalto, renasci na surpresa

do ânimo enrouquecido. 

Como sempre! Como nunca!

Em cada passo diluí as marés salgadas 

que me submergiam. 

Cheguei e parti, sempre vestida 

de descobertas inadiáveis. 

Ave em voo livre, que se prendia 

em gaiolas, sonhando horizontes vastos. 

Liberta, voei solta, para além 

das madrugadas cinzentas e desenhei 

uma luz dourada nas alvoradas. 

Arakné

Sem comentários: