O Mito de Arakné (antiga lenda grega)


Entre os deuses que habitavam no Olimpo reinava Atena, deusa da Sabedoria e de todas as Artes... A bela Arakné era uma extraordinária bordadeira, cujos trabalhos maravilhosos eram admirados por todos os que os contemplavam:

- Que mãos preciosas tem!... que harmonia de cores!... que obras de arte!...

Tais elogios envaideceram tanto Arakné, que um dia exclamou:

- Se eu desafiasse a deusa Atena tenho a certeza de que ganharia!

Logo as ninfas do bosque correram a contar as suas palavras à deusa que, enfurecida pela afronta, logo aceitou o desafio... No dia marcado, Atena executou o seu bordado com muita arte e empenho mas, quando terminou, percebeu que a obra de Arakné era realmente muito mais bela que a sua... Enraivecida, rasgou o bordado da sua rival em mil pedaços e, em seguida, transformou-a numa aranha para todo o sempre...

(Lenda Mitológica Grega)


domingo, 20 de agosto de 2023

*DEVANEIO NOTURNO

No silêncio ruidosamente impuro

das noites, jaz, intensa e poderosa,

confusão dos sentidos rarefeitos

e compõe-se, em tangíveis harmonias 

e sons íntimos, uma inaudível música, 

só minha.


Fantasia forjada em molde perfeito, 

desenhada no paradoxo desta noite solitária

em que som e silêncio casam intimidades,

geradas nas palavras mudas que o dia omitiu,

mas que logo a noite gritou impiedosa,  

num diálogo destemperado, a sós.

Questiona-me o momento, o pensamento,

o instante que perdura eternidades

em discreta angústia.


O fio da vida insiste em ignorar-me 

no enrolar do emaranhado novelo 

que tece os dias inquietos, que o tempo empoeira.

Questiono a dormência repetida como um eco

monótono, seco, dolorido de si próprio.

Em breve nascerá um sol demolidor, 

invasor de trevas, destronando fantasmas penosos.


Brutal, a turva clareza dos sons vazios

que escorregam em estilhaços, sem cores para ver

ou sons para escutar.

Observo as sombras e brilhos que se compõem 

em silhuetas dançando na obscuridade fresca.

Observo fascinada as cortinas ondulantes

como véus reveladores de brisas frescas

e odores de maresia.


Banho-me nos tons frios deste silêncio que amo,

no murmúrio de eterna onda desta música 

que só para mim canta.


O silêncio pleno, tão cheio de momento e sentido.

A solidão cheia, tão plena de mundo e som. 

Arakné

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