Arakné
O Mito de Arakné (antiga lenda grega)
Entre os deuses que habitavam no Olimpo reinava Atena, deusa da Sabedoria e de todas as Artes... A bela Arakné era uma extraordinária bordadeira, cujos trabalhos maravilhosos eram admirados por todos os que os contemplavam:
- Que mãos preciosas tem!... que harmonia de cores!... que obras de arte!...
Tais elogios envaideceram tanto Arakné, que um dia exclamou:
- Se eu desafiasse a deusa Atena tenho a certeza de que ganharia!
Logo as ninfas do bosque correram a contar as suas palavras à deusa que, enfurecida pela afronta, logo aceitou o desafio... No dia marcado, Atena executou o seu bordado com muita arte e empenho mas, quando terminou, percebeu que a obra de Arakné era realmente muito mais bela que a sua... Enraivecida, rasgou o bordado da sua rival em mil pedaços e, em seguida, transformou-a numa aranha para todo o sempre...
(Lenda Mitológica Grega)
domingo, 6 de julho de 2025
sábado, 17 de maio de 2025
sexta-feira, 9 de maio de 2025
BIOGRAFIA
Discretamente, deslizei pela vida, num arrulhar
de doçuras reprimidas, máscaras, graças, ironias.
Sensível a sorrisos alheios. E a vãs picardias...
O vento, que soprou ligeiro, ao qual expus o meu rosto, dissolveu
e secou as lágrimas que correram nele, ao sabor de nadas,
sacrifícios, pecados inconfessados, fantasias, desilusões,
submissões mudas. Num mundo à parte, o espaço
esconso em que me reservava, inteira. Ou me dissolvia...
Passeei pelos desvãos desse mundo, apartado e longínquo.
Meu mundo, sempre algo solitário,
desde a remota infância, a infância de contos de fadas,
princesas encantadas e bruxas. Livros em que,
estranhamente, mergulhei, nos dias em que chorei.
Menina tão quieta...
Passeei, sempre, por ocasos, auroras e noites de magia.
Momentos meus, únicos, no cansaço de gentes.
Mulher tão solitária...
Observei o gesto, o detalhe, a desarmonia da voz, o olhar fugidio.
E soube, para além das palavras que ainda me faltavam
e da minha visão inocente. Vi estranhos lampejos de emoções,
desconfortos, incompreensões, falsidades. Apenas soube...
Guardei amores inamovíveis, glórias imaginárias,
angústias infantis que choraram.
Mas, às vezes, o mundo apetecia-me: a tarde ensolarada,
o riso cristalino, o abraço fácil e feliz.
Os abraços acolheram o tacto morno das mãos,
num toque antigo de conforto. As mãos acariciaram
mundos idos, em gestos suaves e ternos.
O amor transpareceu em carícias, moveu-se,
quase dançante. Aguardei então, ansiosa, essa Luz.
Ainda hoje venero as mãos que acariciei com suavidade,
pela vida fora. Todas elas...
Mas, a vida afastou-se lentamente das claridades
risonhas, submergiu-me em saudade e lamento.
Diluiu-me no rol dos dias. Sonhei e tentei reter, ávida,
algo de uma felicidade que me iludiu. Percebi momentos
que simulavam uma eternidade, mas que, num instante,
se esfumaram. As rotinas me torturaram...
Verdades meias ou meias mentiras, para nós mesmos,
em cegueiras, distrações e decepções e, discretamente,
nos sumiamos num refúgio de mágoas.
O horizonte me chamou...
Hoje, observo o desejo que ainda vive, num desespero
dos dias que se foram. Não virei as costas à vida.
Fui ver quem batia à porta, tão urgente.
Acolhi a dádiva, ainda que envolta em pranto.
Hoje, sonho ainda os momentos da pele morna, num delírio
de amor, sem espaço, sem tempo, sem nada.
O universo inteiro me encerrou...
Atei-me em laços que, lentamente, se desataram.
Numa indolência sem chama, a insanidade me levou,
me afundou em equívocos, que ninguém pareceu notar.
Por vias inventadas me fui, decidida, apressada, urgente,
convicta. Nessa busca, outros fulgores me estremeceram.
Tão perdida...
Hoje, reconheço os resquícios de uma ternura desejosa
que acarinho, sem ilusões, deliciosa nostalgia desses
amores resgastados. Afinal, nunca parti...
Hoje, acaricio amores, que se me revelam brilhantes, limpos
pelo sal do tempo, simples, tal como outrora.
Sou uma resultante de todos os instantes: uma ternura
profunda, um abraço bom, um riso tranquilo, um olhar cúmplice.
Afinal, sempre estive aqui...
Arakné
sexta-feira, 25 de abril de 2025
Destino adiado...
Alçámos voo nas asas de um sonho.
Passeámos na carícia branda, tão urgente, do nosso olhar.
Naquela promessa antiga, no retorno, na jura que então fizemos,
numa lembrança perene: este amor de hoje, este amor de um dia,
este amor secreto, este amor de sempre...
Nas palmas das nossas mãos húmidas, soubemos da fome
e da sede, da solidão e do pranto. E, num suave murmúrio:
"Vem ter comigo, amor.", "Como se vive sem ti?",
"Necessito ver-te...Vem!", "Ainda sentes saudade?"
O instante no calor da pele, no eterno sabor do beijo,
no delírio do nosso cheiro, na taça cheia derramada...
Neste universo longínquo, gerado e vivido por nós:
"Como se vive sem ti?", "Como se vive uma vida,
sem a respiração plena, sem que o coraçao vibre,
sem que o olhar seja carícia?"
Como sempre também, as marés nos submergiram,
as ondas nos transportaram e, em desmaios, nos resgataram.
E, quando a noite chegou, o sussuro inevitável:
"Até já, meu amor.", "Até sempre, meu amor.",
"Leva-me dentro de ti.", " Sabes que estou sempre aqui."...
Arakné
domingo, 13 de abril de 2025
*Paradoxos...
Perdemo-nos de nós próprios numa busca
permanente de nexos lógicos ou causalidades,
em cada momento e nos tantos acasos que nos surpreendem
pelos caminhos árduos que percorremos.
Por aí, deambulamos absortos ou atentos,
sempre feridos pelos ritmos e devaneios que,
em solitudes, percebemos nos recantos desencontrados
dos pensamentos fortuitos ou nas permanentes
construções voláteis que nos comprazemos
em destruir ou acarinhar.
Tão perene é essa eterna efemeridade, contrita,
dentro de nós. Em paradoxos!... Aí satisfazemos,
em tragos sedentos, esta nossa sede tão constante
de infinitos e ilimites.
Uma certa mágoa, persistente e ténue, que nos constrange
e, por vezes, nos interpela em picos de crueza e lucidez,
sangrando-nos num rio doloroso e breve.
Insuportável crueza!... Com ela ou por ela, avançamos
pelos atalhos que nos apresentam essa imensa incógnita
que são os mundos paralelos que nos cercam.
Numa luta emparedada e impossível, que nos limita
e derrota, outros seres riem, mudos ou sarcásticos.
Desconhecemos, quase inteiramente, esses universos
estranhos, ainda que nos pareçam muito próximos.
Assim, a vida simula um imenso lago salgado,
como um oceano efervescente em que mergulhamos,
certos de um único destino previsível e da sua imprevisibilidade
temporal, mas certeira. E, nas margens, vislumbramos
o descanso e o vazio plenos do regresso a casa:
O vazio do tempo e do espaço;
A aniquilação do ser feito de fragmentos e limites;
A absoluta paz da incorporação num todo, tão quieto,
tão perfeito, tão eterno, que tanto buscámos, famintos.
Arakné
sábado, 5 de abril de 2025
sexta-feira, 21 de março de 2025
*Ah, a Poesia...
Hoje é o dia,
da Poesia?
E quem são os Poetas?
Serão os que se escondem
nas dobras da mente,
nos recantos da alma,
nos olhares que pressentem,
no que os corações sentem,
nas palavras que mentem?
Mas se eles são uns fingidores!...
Diria um Poeta...
Em choros calados
ou risos interiores,
viajam em músicas
jamais escutadas,
dançam solitários
em florestas encantadas,
navegam inquietos
em nuvens distantes,
por rumos longínquos
e horizontes perdidos,
nos amores proibidos
jamais esquecidos.
Reencontros consigo?
Mas se eles são uns perdidos!...
A Poesia é secreta,
oculta-se nas pregas
de um tempo miúdo,
nos momentos e idades,
que são dos Poetas.
Onde vivem os Poetas?
Eles estão por aí,
vagueiam no ar,
flutuam no mar,
suspiram caminhos,
escondem olhares,
nas janelas cerradas,
nas portas entreabertas,
nas almas que sangram,
em gritos escondidos
e sussurros calados.
E onde vive a Poesia?
Onde sangram rosas!
Onde gritam luas!
Onde segredam sombras!
Onde desmaiam sonhos!...
Arakné