*Paradoxos...
Perdemo-nos de nós próprios numa busca
permanente de nexos lógicos ou causalidades,
em cada momento e nos tantos acasos que nos surpreendem
pelos caminhos árduos que percorremos.
Por aí, deambulamos absortos ou atentos,
sempre feridos pelos ritmos e devaneios que,
em solitudes, percebemos nos recantos desencontrados
dos pensamentos fortuitos ou nas permanentes
construções voláteis que nos comprazemos
em destruir ou acarinhar.
Tão perene é essa eterna efemeridade, contrita,
dentro de nós. Em paradoxos!... Aí satisfazemos,
em tragos sedentos, esta nossa sede tão constante
de infinitos e ilimites.
Uma certa mágoa, persistente e ténue, que nos constrange
e, por vezes, nos interpela em picos de crueza e lucidez,
sangrando-nos num rio doloroso e breve.
Insuportável crueza!... Com ela ou por ela, avançamos
pelos atalhos que nos apresentam essa imensa incógnita
que são os mundos paralelos que nos cercam.
Numa luta emparedada e impossível, que nos limita
e derrota, outros seres riem, mudos ou sarcásticos.
Desconhecemos, quase inteiramente, esses universos
estranhos, ainda que nos pareçam muito próximos.
Assim, a vida simula um imenso lago salgado,
como um oceano efervescente em que mergulhamos,
certos de um único destino previsível e da sua imprevisibilidade
temporal, mas certeira. E, nas margens, vislumbramos
o descanso e o vazio plenos do regresso a casa:
O vazio do tempo e do espaço;
A aniquilação do ser feito de fragmentos e limites;
A absoluta paz da incorporação num todo, tão quieto,
tão perfeito, tão eterno, que tanto buscámos, famintos.
Arakné
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