O Mito de Arakné (antiga lenda grega)


Entre os deuses que habitavam no Olimpo reinava Atena, deusa da Sabedoria e de todas as Artes... A bela Arakné era uma extraordinária bordadeira, cujos trabalhos maravilhosos eram admirados por todos os que os contemplavam:

- Que mãos preciosas tem!... que harmonia de cores!... que obras de arte!...

Tais elogios envaideceram tanto Arakné, que um dia exclamou:

- Se eu desafiasse a deusa Atena tenho a certeza de que ganharia!

Logo as ninfas do bosque correram a contar as suas palavras à deusa que, enfurecida pela afronta, logo aceitou o desafio... No dia marcado, Atena executou o seu bordado com muita arte e empenho mas, quando terminou, percebeu que a obra de Arakné era realmente muito mais bela que a sua... Enraivecida, rasgou o bordado da sua rival em mil pedaços e, em seguida, transformou-a numa aranha para todo o sempre...

(Lenda Mitológica Grega)


sexta-feira, 9 de maio de 2025

BIOGRAFIA

Discretamente, deslizei pela vida, num arrulhar 

de doçuras reprimidas, máscaras, graças, ironias.

Sensível a sorrisos alheios. E a vãs picardias...


O vento, que soprou ligeiro, ao qual expus o meu rosto, dissolveu

e secou as lágrimas que correram nele, ao sabor de nadas,

sacrifícios, pecados inconfessados, fantasias, desilusões,

submissões mudas. Num mundo à parte, o espaço 

esconso em que me reservava, inteira. Ou me dissolvia... 


Passeei pelos desvãos desse mundo, apartado longínquo.

Meu mundo, sempre algo solitário, 

desde a remota infância, a infância de contos de fadas,

princesas encantadas e bruxas. Livros em que,

estranhamente, mergulhei, nos dias em que chorei. 

Menina tão quieta...


Passeei, sempre, por ocasos, auroras e noites de magia.

Momentos meus, únicos, no cansaço de gentes.

Mulher tão solitária...


Observei o gesto, o detalhe, a desarmonia da voz, o olhar fugidio.

E soube, para além das palavras que ainda me faltavam 

e da minha visão inocente. Vi estranhos lampejos de emoções,

 desconfortos, incompreensões, falsidades. Apenas soube...


Guardei amores inamovíveis, glórias imaginárias,

angústias infantis que choraram. 

Mas, às vezes, o mundo apetecia-me: a tarde ensolarada,

o riso cristalino, o abraço fácil e feliz. 

Os abraços acolheram o tacto morno das mãos,

num toque antigo de conforto. As mãos acariciaram 

mundos idos, em gestos suaves e ternos. 

O amor transpareceu em carícias, moveu-se,

quase dançante. Aguardei então, ansiosa, essa Luz.

Ainda hoje venero as mãos que acariciei com suavidade,

pela vida fora. Todas elas...


Mas, a vida afastou-se lentamente das claridades 

risonhas, submergiu-me em saudade e lamento.

Diluiu-me no rol dos dias. Sonhei e tentei reter, ávida,

algo de uma felicidade que me iludiu. Percebi momentos

que simulavam uma eternidade, mas que, num instante,

se esfumaram. As rotinas me torturaram...


Verdades meias ou meias mentiras, para nós mesmos,

em cegueiras, distrações e decepções e, discretamente,

nos sumiamos num refúgio de mágoas.

horizonte me chamou...


Hoje, observo o desejo que ainda vive, num desespero 

dos dias que se foram. Não virei as costas à vida. 

Fui ver quem batia à porta, tão urgente.

Acolhi a dádiva, ainda que envolta em pranto.

Hoje, sonho ainda os momentos da pele morna, num delírio 

de amor, sem espaço, sem tempo, sem nada.

O universo inteiro me encerrou... 


Atei-me em laços que, lentamente, se desataram. 

Numa indolência sem chama, a insanidade me levou,

me afundou em equívocos, que ninguém pareceu notar. 

Por vias inventadas me fui, decidida, apressada, urgente,

convicta. Nessa busca, outros fulgores me estremeceram. 

Tão perdida...


Hoje, reconheço os resquícios de uma ternura desejosa

que acarinho, sem ilusões, deliciosa nostalgia desses

 amores  resgastados. Afinal, nunca parti... 


Hoje, acaricio amores, que se me revelam brilhantes, limpos

pelo sal do tempo, simples, tal como outrora.

Sou uma resultante de todos os instantes: uma ternura 

profunda, um abraço bom, um riso tranquilo, um olhar cúmplice.

Afinal, sempre estive aqui...

Arakné 

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