O Mito de Arakné (antiga lenda grega)


Entre os deuses que habitavam no Olimpo reinava Atena, deusa da Sabedoria e de todas as Artes... A bela Arakné era uma extraordinária bordadeira, cujos trabalhos maravilhosos eram admirados por todos os que os contemplavam:

- Que mãos preciosas tem!... que harmonia de cores!... que obras de arte!...

Tais elogios envaideceram tanto Arakné, que um dia exclamou:

- Se eu desafiasse a deusa Atena tenho a certeza de que ganharia!

Logo as ninfas do bosque correram a contar as suas palavras à deusa que, enfurecida pela afronta, logo aceitou o desafio... No dia marcado, Atena executou o seu bordado com muita arte e empenho mas, quando terminou, percebeu que a obra de Arakné era realmente muito mais bela que a sua... Enraivecida, rasgou o bordado da sua rival em mil pedaços e, em seguida, transformou-a numa aranha para todo o sempre...

(Lenda Mitológica Grega)


quinta-feira, 10 de agosto de 2023

*Quedo-me silenciosa

e, por hábito antigo,

observo curiosa

numa surpresa atenta,

o desfilar de um tempo 

vago, macio, rude, 

dormente, 

sempre apressado.


Interrogo o vórtice 

algo doloroso

das emoções 

em que mergulho, 

viciosa, nas horas soltas

de amarras desamarradas, 

recordadas, gravadas a fogo

em traços desconformes

em mim.


Aperfeiçoo suavemente

o instrumento, cortante 

e vivo, com que retalho

caminhos bravios, 

simulo calmarias 

ou desaguo em cursos

de águas cristalinas 

e revoltas, soltas 

nas torrentes de palavras 

onde busco um nexo

ou os nexos perdidos.


Como fruto proibido,

devorado em noites

incógnitas, por mim, 

de quem o sono foge,

os sonhos tardam

os sentidos fugidios

submergem, 

arranhados por sombras 

e desesperança.


Vem. Chega inteiro e limpo, 

com essa voz tão clara

e doce com que acendes

as manhãs com as cores

do arco íris, com que saúdas

a brisa que me refresca

depois da tempestade intensa.


Vem, mas vem depressa. 

Que te espero agora,

numa agonia de campo

sedento, exausta das ceifas, 

dos tempos em que tardavam 

as palavras, suspensas 

no sol como cascatas

de fogo ardente.


Mesmo indeciso e vago,

o teu sentir derrama-se

no meu olhar e refresca-me. 

Vem, não tardes muito,

fonte santa,

porque este estio 

é sofrimento, deserto,  

fogueira ardente. 


Vem depressa, 

vem beijar esta minha sede 

tão inclemente.

Arakné


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