*Quedo-me silenciosa
e, por hábito antigo,
observo curiosa
numa surpresa atenta,
o desfilar de um tempo
vago, macio, rude,
dormente,
sempre apressado.
Interrogo o vórtice
algo doloroso
das emoções
em que mergulho,
viciosa, nas horas soltas
de amarras desamarradas,
recordadas, gravadas a fogo
em traços desconformes
em mim.
Aperfeiçoo suavemente
o instrumento, cortante
e vivo, com que retalho
caminhos bravios,
simulo calmarias
ou desaguo em cursos
de águas cristalinas
e revoltas, soltas
nas torrentes de palavras
onde busco um nexo
ou os nexos perdidos.
Como fruto proibido,
devorado em noites
incógnitas, por mim,
de quem o sono foge,
os sonhos tardam
e os sentidos fugidios
submergem,
arranhados por sombras
e desesperança.
Vem. Chega inteiro e limpo,
com essa voz tão clara
e doce com que acendes
as manhãs com as cores
do arco íris, com que saúdas
a brisa que me refresca
depois da tempestade intensa.
Vem, mas vem depressa.
Que te espero agora,
numa agonia de campo
sedento, exausta das ceifas,
dos tempos em que tardavam
as palavras, suspensas
no sol como cascatas
de fogo ardente.
Mesmo indeciso e vago,
o teu sentir derrama-se
no meu olhar e refresca-me.
Vem, não tardes muito,
fonte santa,
porque este estio
é sofrimento, deserto,
fogueira ardente.
Vem depressa,
vem beijar esta minha sede
tão inclemente.
Arakné
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