*TEMPESTADE NA NOITE
Na noite solitária chega-me o som
dos ventos e a fúria da tempestade...
Trovões violentos estremecem a casa,
São zangas celestes? Castigos divinos?
"Valha-nos Santa Bárbara, serva de Deus
e proteção divina nas trovoadas!"
"Agora uma prece!", "Uma vela acesa!",
"A luz já se foi!", gemia a avó ...
Rugidos de fera, natureza em fuga,
liberta, zangada, solta, tremenda...
E as belezas de ontem ao anoitecer?
E aquela frescura ao pôr do sol?
E a imensa paz daquela varanda
de frente para o mar?
E aquela cascata brilhando ao luar?
A fúria do mar? O rugido das ondas?
Tempestades da vida? A casa estremece!
"Valha-me Santa Bárbara!". Acendo outra vela.
Desligo o aparelho. Sentada na sala. Sem companhia.
A avó já não está. Olá, Solidão!
Quando era menina e a mãe me dizia:
"Anda pequenina, vem aqui pra cama,
dá-me a tua mão e ficas quentinha,
já vai terminar, dorme menina..."
A fúria no ar, a vida a passar,
as velas a arder, a solidão a chorar.
A janela iluminada na dobra do instante,
um clarão rude, tão ofuscante...
A mãe já não está, agora é pequenina:
"Já vai terminar, dorme menina."
Os olhos fechados, memórias do tempo.
Entre cada lágrima, o vento adormece.
"Dorme menina, já terminou."
A vida amanhece...
Arakné
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