*ANOITECIDA...
Algures, na noite, pressentem-se ruídos misteriosos.
As árvores murmuram. Aves nocturnas esvoaçam
em busca de alimento. Num restolhar de vegetação,
algum pequeno animal abriga-se na sua toca segura...
Sento-me no banco escurecido, por entre os arbustos,
os olhos semicerrados para escutar melhor
os pensamentos e uma estranha melodia íntima,
que me acompanha desde sempre, indecifrável...
Neste momento de diálogo interno,
misturo-me e dissolvo-me no leve aroma
da frescura da noite. Vagueio solitária
pelos meandros dos meus pensamentos...
Como ave em fuga de uma armadilha, relembro
segredos há muito esquecidos, restos de sonhos,
construções imaginárias, velharias guardadas
no sótão empoeirado das minhas memórias...
Entre mim e eu própria, um diálogo constante,
vindo de uma imemorial necessidade de entender,
de um certo sofrimento que se esbate levemente
no desfilar dos dias, mas que se reacende
em instantes solitários...
E uma estranha forma de prazer...
Poderão mágoas ocultas travestir-se num prazer secreto,
que nada tem de mórbido, mas que se anuncia
numa lucidez cortante, mas também benévola,
que me conduz?
Mergulho num oceano de fantasias, construções a esmo,
lógicas enfermas ou ilógicas estranhezas... E rio-me
deste íntimo debate, cheio de viciosos traçados,
inventados por um alter ego, que desenho nas páginas
de um livro secreto e logo recorto em pedaços adormecidos,
que afogo no rio tumultuoso das emoções implacáveis
que me definem, secretas...
Arakné
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