Alter ego, difusa imagem, em abismo,
Justeza mais que imperfeita.
Sem mácula, dona de todas as máculas,
De tudo o que seja e não seja.
Possível e impossível, infinitamente eterna
Alternativa imutável,
Além de todos os universos
Paralelos, convexos, centríptos,
Reflectidos em mil pedaços
De mil espelhos estilhaçados.
Como sequer vislumbrar-me
Ou até adivinhar-me neste segmento
Micro que em átomos se ilude?
Mera fantasia, observador alheio,
Vácuo variável entre constantes e partículas.
Como entender toda a trama tecida,
Em camadas sobrepostas, coladas, separadas,
Desde sempre indeterminadas,
Se nada mais existe além de um agora,
Instantâneo ponto infinito,
Limitado no Espaço.
IIusão do tempo premente
Que faltou ou sobrou na mente.
Uma espiral? Pergunto.
Que oculto esse, tão limitado à retina
Quanto ilimitado ao cérebro,
Repositório invisível entre impulsos e sinais.
Pura energia? Interpreto.
Busca canhestra, descuidada, deslavada
Ou crente de um culto feito perfeito?
Como exumar esta ambição de diluição
Na essência que, partilhando-a,
Me decompõe?
Humano equívoco ou justo desejo:
Poder, riqueza, beleza, amor, saber.
Conflito ou cura? Diversão.
E a conexão? Mera ilusão.
Primordial aceitação, órfã dos limites
Em que mergulho mas nunca vislumbro,
Ébria da busca porque a finitude dos limites
Exaspera. Só ao despir da roupagem
Terei alcançado a visão?
Da infinita justeza da nobre beleza,
Da significância impensável,
Da ordem total do caos,
Do sustentáculo entre miríades
Do que sou e do que não sou, sendo.
A consciência? Pacífica luta,
Equilíbrio em desequilíbrio,
Permanência imanente, eterno conflito.
Loucura dos mansos remansos
De um rio que corre transpondo as margens
De águas revoltas, mordentes, do sol ao sal,
Sedentas de um só oceano,
União de horizontes e marés,
Observado observante e eterno expectante,
Criadora criatura, pedra de toque,
Contentor sem conteúdo, apenas contido.
Vida, energia, ciclo, pura essência,
Eterna potência, amor contraste,
Desamor em tons de branco,
Múltiplas cores, frequência,
Melodia, eterno sussurro...
Chamamos-lhe Amor?
Chamamos-lhe Vida?
Chamamos-lhe Caos ou Energia?
Chamamos-lhe Deus? Perfeito Imperfeito.
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