*Poente poético, divagante fluir da tarde,

saboreante de ócio delicioso,

rumo a horizontes e viagens desconhecidas.

Em bordejares de abismos e aventuras imaginadas,

heróis geniais que povoam fantasias,

no pequeno jardim de miosótis púrpura.

Sucedem-se às escarpadas montanhas,

os vales de prados azuis, salpicados de branco 

e nuvens esparsas, demarcadas por alfazemas roxas.

O caminho desliza rochedos até às enseadas, 

de areia solta e branca e águas cálidas, onde mergulham corais,

conchas, rosáceas e sóis multicoloridos, paraísos.

Trespassam-me pores de sol afogueados,

doçuras de tardes, serenidades, pássaros 

em cânticos de verão, cheiros de maçãs assadas  e canela.

Declina-me o sol num rumorejar de cascata, 

dilui-me na natureza a singela perfeição dos dias, anoiteço-me, 

suave, na primeira estrela e a lua solta-me o suspiro.

O amor invade a preguiçosa sensualidade universal,

espraia-me a saudade de nada, a vida perfeita,

a hora exacta, assume-se o tempo, estático no agora.

Sucessivo e mudo, comunhão consubstanciada 

no todo circular, ilimitadamente finito,

perfeito e fechado, Universo.

Arakné