*Na noite, entontecida,

pelo calor da brisa morna,

afogo-me de horas

quase paradas,

repetidas, inexoráveis,

rotineiras, monocórdicas

adivinho um silêncio martelado, 

quase contínuo, inquieto, 

de sons arrastados, inaudíveis,

nestes momentos de paz

absurda, quase paradoxal,

em que o dia repousa, surdo

o relógio, emudecido, marca as horas, 

que se insinuam, proféticas, 

como num cetim fresco,

quase confortável, 

com uma nostalgia, quase doce,

que perscruta memórias, quase ácidas

a músíca vagueia difusa,

impalpável, quase chorosa,

e nas paredes a sombra

trémula, num impasse

agridoce, complacente,

arrasta-se quase dolorosa

nas páginas iletradas,

ilegíveis, quase herméticas,

do livro em que me escrevo

assino este poema triste,

que encerrarei no cofre forte, 

solitário, quase blindado, do peito.

Arakné