*As minhas mãos

trazem poemas inacabados

que nascem de estranhezas

e suspiros calados

nelas seguro plumas

que esvoaçam forçando voos

num rasto de sentires

magoadas esperanças

e incertezas esquecidas.

As minhas mãos 

transportam levemente

lanças arpões e setas

que cravo em árvores seculares
e arcos de emoções

que explodem certeiras

e afugentam bandos

de nuvens de algodão branco

tão límpidas que escorrem

incontidas e vividas

quais avezitas expulsas.

As minhas mãos abrem sulcos

traçam vestígios rápidos

em carícias esquecidas

lançam âncoras em praias

de marés baixas e claras

e de doces águas cálidas.

As minhas mãos dão afago

ao navegante solitário

e olho-as sempre vazias

cheias desta perplexidade

em que me trespasso

e surpreendo-me em agonia.

Nas minhas mãos nascem

poemas de nada e de ninguém.
Arakné