Como o rio que discorre
e percorre em crescendo
a vertiginosa turbulência  

sinuosamente derramando-se
em fúria tocando e arrastando

por vertentes que em mim
se assemelham no sentir

que transporto nas marcas

cristalizadas das mãos
rumos pressentidos e sábios,

certos e assumidos no fogo
e nas ardências desenhadas
numa tão diversa cartografia

perpassam arrepios contractivos 

que numa escorrida humidade

vislumbram e subentendem
o gozo sempre excessivo
e nos afogam numa dança

douradamente flutuante
como um punhal incendiário

que impudicamente infiltra
e trespassa obsceno amante
soltando-se de si no outro

derramando volúpia inaudita
e no enlace íntimo e brutal 
te imobilizo e te liberto

em abraços das repetidas
e fugazes sensações gritadas
num ritmo de fúria tão urgente

que, beijando-nos com raiva,
bebemos um do outro o amor...
Arakné