15.

De tantas derrotas esgotada,

ocultei-me em exiladas fantasias

como únicas e solitárias companhias

em apaixonado e dormente vício.

Em teimosos e chorados laços,

erigidos sobre as ilusões desfeitas

de malhas entretecidas e bordadas

numa tão sofrida solidão.

 Elaboradas e enredadas rendas

envergavam-me nas noites perdidas

em que, enamorada noiva solitária,

me envolvia em véus transparentes.

E, suavemente, me acercava de ti

e perseguia o teu sono abandonado,

sedenta dos teus braços envolventes,

faminta desses beijos tão ausentes...

Saudosa de tão letal veneno,

tomavas-me, logo nos perdíamos

em marés enchentes e vazantes:

Eu, de ti, incógnita navegante,

Tu, de mim, pescador de estrelas.

Renascíamos em correntes poderosas,

reconhecia-me predadora solitária

dos meus próprios fios prisioneira.

E eu era a única verdadeira presa,

de ti, minha incauta vítima...

Arakné